ADRIANO MACHADO
Adriano Machado
Sem título, 2021
fotografia (impressão sobre lona)
)
Adriano Machado
1986, Feira de Santana, BA
Vive e trabalha em Feira de Santana e Alagoinhas, BA.
Possui mestrado em Artes Visuais pela UFBA e desenvolve projetos artísticos de fotografia, vídeo e objetos que buscam discutir questões sobre identidade, território, ficção e memória, investigando processos de políticas de vida. Suas obras apontam para a condição humana entre os espaços de convivência e os territórios afroinventivos.
Participou de exposições como: Casa Aberta: Passagens (Casa França-Brasil, Rio de Janeiro, 2021); Bienal de Cerveira (Portugal, 2020); Maratona Fotográfica FIF-BH (Belo Horizonte, 2020); Valongo Festival Internacional da Imagem (Santos/SP, 2019); Concerto para Pássaros (Instituto Goethe, Salvador, 2019); e Panapaná “Vamos de Mãos Dadas" (João Pessoa, 2018). Ganhou o prêmio principal no Salão de Artes Visuais da Bahia, em 2013, além de menções especiais nas edições de 2011 e 2014; e o Prêmio Funarte de Residências Artísticas, em 2019. Também realizou residências na “Pivô Pesquisa Ciclo III/Beck’s” (São Paulo, 2020); no ciclo “Fluxos: Acervos do Atlântico Sul” (Salvador, 2019) e no projeto VerdeVEZ (Teresina, 2019), no campo da arte contemporânea.
Site: www.cargocollective.com/adrianomachado
A fotografia expandida a grandes dimensões – a impressão tem 4,40 m x 2,80 m – na lona recorrente na boleia dos caminhões que cruzam, dia a dia, as estradas do mundo engolfa quem a vê presencialmente. Talvez causando um efeito aproximado a uma das convenções da estilística barroca, no auge na Europa por volta de 1500 e nas Américas ao longo dos 1600-700, que demandava o apequenamento da pessoa diante da magnitude da arte configurada, essencialmente, por motivação/finalidade religiosa. Mesmo período em que começaram a ser propagadas pelas monarquias portuguesa, inglesa, espanhola, francesa, entre outras mais do oeste europeu, as políticas de instalação do progresso por intermédio das navegações para alcançar terras estrangeiras.
Progresso este continuamente medido por escalas de desenvolvimento baseadas em quantitativos: de recursos minerais, riqueza acumulada, exportações realizadas, assim como de rodovias, indústrias, modais de transporte, que, séculos depois, passam ao plano do trabalho sem título ou “lote 4”, de Adriano Machado. Obra constituída pela ação de registrar a duplicação da BR-101, uma das maiores vias da União, iniciada em 1950, que se estende do Rio Grande do Sul ao do Norte, paralela ao oceano no trecho entre as cidades baianas de Feira de Santana e Alagoinhas. Cujas raízes são as políticas extrativistas que vêm desmaterializando as terras no Sul global, retoricamente disfarçadas de iniciativas para o bem popular – no caso, diria-se, da otimização da circulação.
De forma que as camadas de rochas, lentamente sedimentadas, ainda que revolvidas por retroescavadeiras, tratores e demais máquinas pesadas em frações de segundos, de acordo com o artista, apontam para o lado perverso da realidade social contemporânea, substancialmente no governo Bolsonaro. No qual vêm sendo desmanteladas, igualmente, as frágeis seguridades estatais em relação ao meio ambiente, ao trabalho, enfim, em que são esgarçados os limiares forçados da especulação fiscal que segue regendo a tessitura de políticas públicas, verticalmente imputadas, no Brasil.