ISAEL MAXAKALI
Isael Maxakali
Xupapoynãg, 2011
Documentário
15’54”
Ficha técnica:
Direção: Isael Maxakali
Assistente de direção: Sueli Maxakali
Câmera e direção de fotografia: Isael Maxakali
Edição: Charles Bicalho
Fotografia still: Sueli Maxakali
Produção executiva: Isael Maxakali e Sueli Maxakali
Produção de finalização: Charles Bicalho e Cláudia Alves
Coordenação de finalização: Charles Bicalho
Assistente de finalização: Alexandre Coelho
Finalização de imagem: Jackson Abacatu
Criação de abertura: Charles Bicalho
Canto de abertura: Isael e Sueli Maxakali
Finalização de áudio: Jackson Abacatu
Autoração de DVD: Jackson Abacatu
Realização: Comunidade Maxakali de Aldeia Verde e Pajé Filmes
Belo Horizonte 2011
Contemplado no Edital Filme em Minas, categoria de finalização, 2011-12
Isael Maxakali
1978, Santa Helena de Minas, MG
Vive e trabalha em Ladainha, MG.
Site: https://linktr.ee/isaelmaxakali
Xupapoynãg é um filme curta-metragem, de 2011, dos primeiros produzidos pelo casal de cineastas Isael e Sueli Maxakali. A narrativa de Lontra, como se traduz em português o título da obra, desenrola-se em torno do confronto entre os Filhos das Lontra – integrantes do grupo dos espíritos (yãmîys) que reclamam vingança pelo flagelo sofrido – e as mulheres que vilipendiaram esta ser, sagrada na cosmopercepção Tikmũ’ũn_Maxakali, proibida, portanto, de ser utilizada. Vale dizer que o(s) povo(s) genericamente denominados de Maxakali têm vivido, desde antes do Brasil, nas terras que passaram a ser delineadas como o nordeste do estado de Minas Gerais, norte do Espírito Santo e sul da Bahia.
Apesar das demarcações parcamente amparadas pelo órgão atualmente designado Fundação Nacional do Índio (Funai) mais colaborarem para corroborar a redução, em vez da prosperidade, das condições de vida desses povos. Expressa pela destruição da mata atlântica e sua fauna em prol da exportação de madeira, da mineração desregrada do ferro e outros metais, acarretando a degradação profunda de rios, monoculturas e/ou pecuária intensiva em largas áreas convertidas em propriedade privada – para citar alguns fenômenos exaustivamente (d)enunciados.
Nas paisagens de Aldeia Verde, localizada no município de Ladainha/MG, com suas casas construídas de tijolos ou árvores, as galinhas e cachorros, em meio às montanhas enevoadas circundantes que compõem os largos planos videográficos, vemos chegar os Filhos das Lontra, listando a plenos pulmões como a carne e a pele de sua mãe têm sido a causa do enriquecimento de aldeões, que, ainda por cima, estocam os restos de crime nas geladeiras.
Por isso, eles fazem uma ligação de celular para convocar seu chefe e reforços, a fim de acertar, devidamente, as contas do delito. Na sequência, as Lontrinhas tentam, de algumas formas, adquirir, nas casas vazias, compensações materiais pela violência que as vitimou. Pouco tempo depois de não se encontrarem com nenhuma das criminosas, eis que elas surgem em bando, e está formado o campo da enlameada e cruenta batalha que se segue. Tapas, risos, puxões de cabelos, bosta de boi e gritos tonificam o confronto, até a expulsão das Lontrinhas pelas vitoriosas jovens.
Se educar (transmitir) e manter são prerrogativas das poéticas de Isael e Sueli – integrantes do grupo dirigente/fundador da Aldeia Escola Floresta (plano em curso que implica a urgente revisão do perímetro designado pela Funai como as terras e postos Tikmũ’ũn, que nem sequer são abundantes em rios; e que implica também a absoluta refutação de quaisquer propostas análogas ao marco temporal) – essas características são projetadas no trabalho à medida que um ponto central do rito (yãmîyxop), registrado e argumentado, está no expurgo, mediante confrontação direta, da transgressão cometida em apropriar-se, indevidamente, de vidas, corpos, materiais, que não deveriam ser consumidas e sim cuidadas, preservadas. Afinal, o filme pode suscitar, entre tantas possíveis sensações, questões sobre o significado do triunfo das mulheres/humanidade sobre as Lontra que foram, reiteradamente, lesadas.