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PAOLA RIBEIRO

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Paola Ribeiro

E N T R E - Rua Cruzeiro, 2021

Videoperformance de ações realizadas no espaço expositivo

Na série E N T R E, da qual as videoperformances na Rua Cruzeiro fazem parte, Paola Ribeiro investiga relações de corpo(s) e ambientes esvaziados de presenças humanas físicas com suas materialidades. Mormente casas, residências, cujas finalidades de repouso e bem-estar são um pouco menos vinculadas à exploração capitalista, embora sejam sede da instituição família – diferentemente do vídeo montado, que nos possibilita adentrar fissuras da experimentação vivida pela artista nos remanescentes erigidos de uma ex-fábrica têxtil. 

No limiar das sombras dos encaixes de madeira que amparam o telhado, nas frestas dos óculos dos andares superiores do casarão, através de tubos e coreografias, a artista improvisa minuciosamente, de corpo e alma, ecos, estalidos, vocalizações e atritos, que reverberam aos estímulos no entorno. Relacionando-se com os legados ausentes das finalidades que a construção vem desempenhando ao longo do tempo. 

Para mim, o trabalho, como bússola de possibilidades de sentir – conforme preconiza Paola quanto a obras artísticas em geral –, aponta para as frequências de quem, o que, emanou as energias, expressas em vibrações, componentes das memórias testemunhadas e coproduzidas por tijolos, concreto, vigas de ferro, ao lado dos demais materiais constituintes da arquitetura de transição, à época em vias de ser reconfigurada na sede do Ateliê397. 

Particularmente, lembro-me de minha avó Nirinha, que trabalhou por anos a fio em uma das fábricas de tecido instaladas no subúrbio ferroviário de Salvador, no fôlego dos planos governamentais de industrialização do Brasil, coetâneos da exportação de matérias-primas e produtos a baixo custo característica da histórica economia de subserviência. Penso nas agências de mulheres negras operárias, imagino-as rodeadas de máquinas de costura, suor, fitas métricas, sorrisos, berros, lágrimas, tosses, linhas, agulhas, típicas de suas insalubres condições de trabalho generificado, subalterno, nos séculos XX e XXI, em contraste com a possibilidade alternativa de apropriação do ambiente, quase inimaginável décadas antes, realizada por Ribeiro. Questiono-me, ainda, sobre a frequência a ser alcançada para fazer ressoar – ruindo – as políticas governamentais de incentivo ao acúmulo de capital, que beneficiam, via de regra, alguns homens brancos e suas famílias, sobrepujando aquelas que deveriam ser estipuladas em vista da melhoria das condições de trabalho, saúde e bem-estar social. 

E você, o que sentiu/pensou ao entrar na Rua Cruzeiro?

ROGÉRIO FÉLIX

Estou diante de vocês.
Enquanto isso minha voz está sendo gravada.
Essa gravação vai tocar repetidas vezes.
Para cada repetição uma nova gravação.
Para cada gravação mais uma camada de voz.
Chamo isso de Fagia.
Fagia significa alimentar-se.
Aqui me alimento até que a palavra se desfaça.

Paola Ribeiro 

1986, Brasil

Vive e trabalha em São Paulo, SP.

Artista, pesquisadora, mestranda no Instituto de Artes da Unesp e formada em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes, de São Paulo. Atualmente, investiga a ideia de um corpo que se expande através da voz. Um corpo muito atento e interessado nas relações que se dão por meio da percepção. Tato. Audição. Paladar. Visão. Olfato. Voz. A ação desse corpo se articula pelo entrelaçamento de linguagens como performance, música e vídeo. 

Participou de uma série de festivais e exposições coletivas, com destaque para: Dystopie: Sound Art Festival (2020, Berlim); Tá Me Vendo? Tá Me Ouvindo? (2020-2021, Casa Niemeyer, Brasília);  Novas Frequências – Ano X (2020, RJ); Corpo que É Meu Outro (2020, Centro de Educação e Cultura Francisco Carlos Moriconi, Suzano, SP); Experimental de Cinzas (2020, SP); 4ª edição do Língua Fora (2019, SP);  2ª edição do Festival CHIII (2019, SP), como convidada do duo Rádio Diáspora; e Mostra de Artes visuais da Unesp (2019-2020, SP).

Instagram: @paola_ribeiros

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