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KAUÊ GARCIA

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Kauê Garcia

Arrivistas, 2021

Impressão em lona

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Kauê Garcia

Arrivistas, 2021

Impressão em offset

2 cartazes

1.000 cópias cada

Kauê Garcia

1984, Campinas, SP

Vive e trabalha em Campinas, SP. 

Graduado em Artes Visuais pela PUC-Campinas e mestrando em Poéticas Visuais e Processos de Criação pela Unicamp. Sua pesquisa é caracterizada por um olhar crítico à sociedade contemporânea, pelo qual investiga estruturas de poder, estratégias capitalistas, símbolos nacionais, momentos políticos, história da arte, mercado financeiro, ideologia, classes sociais, crime e ilegalidade.

Site: https://kauegarcia.wixsite.com/mysite

Tendo como principal interesse o campo simbólico do discurso e seu tensionamento com o espaço urbano, Kauê Garcia (1984) busca articular em sua pesquisa uma crítica a discursos e instituições que variam entre o ambiente corporativo, o cenário político e a história da arte. Em seus trabalhos, a prática da apropriação e da mixagem se torna ferramenta de ação para construir percepções capazes de atuar na remodelação sensível do mundo.

Na série Arrivistas (2020), Kauê Garcia se vale de entrevistas, palestras e declarações proferidas durante a crise do coronavírus por representantes de grandes marcas – ou, para utilizar um termo contemporâneo, CEOs, cuja sigla denomina diretores executivos – para, posteriormente, reinseri-las no mundo. Ainda que o momento da maior crise sanitária e humanitária das últimas décadas tenha ceifado inúmeras vidas, acarretando subsequentes instabilidades econômicas e financeiras, os discursos encontrados pelo artista refletem o fosso desigualitário perpetuado pelo modelo econômico neoliberal: grandes empresas tendem a considerar a pandemia como uma oportunidade de crescimento. Ou, conforme destacado em um dos cartazes da série Arrivistas, como um golpe de sorte.

Das entrevistas são destacados trechos como “Uma grande oportunidade para nós”, “Crescemos em todas as crises”, “Vivemos um momento mágico” e “Feliz com a continuidade do momentum”, estampados em suportes que variam desde cartazes e faixas inseridos no espaço urbano ou expositivo até páginas de sites, passíveis de ser acessadas pelo link https://afonte.tiiny.site. Em todas as suas configurações, um mesmo modelo textual: frases otimistas e triunfantes ocupam quase a totalidade do suporte e são acompanhadas de um pequeno parágrafo logo abaixo. Seu enunciado situa o emissor do discurso e o contexto econômico e histórico em que a frase em destaque foi proferida. Enquanto um primeiro contato com os enunciados fornece acolhimento ao espectador, ao utilizar como gancho mensagens motivacionais, a farsa se revela no esmiuçar dos olhos que buscam codificar as pequenas letras, que enquadram e revelam aqueles que, sob a atual circunstância, são capazes de proferir a sentença.

Para além do conteúdo discursivo da série Arrivistas, o uso da cor concentra-se em paletas vibrantes — tornadas quase ilegíveis em certas aplicações de neon no meio digital –, que buscam se relacionar com o suporte veiculado. Nos cartazes disponibilizados na exposição Dizer Não, o uso saturado do vermelho e do verde referenciam as empresas que os emissores representam – Netflix e Spotify, respectivamente. Em intenso contraste sobre o preto, contudo, as frases parecem adquirir um tom dramático que beira o trágico, atingindo o espectador como um projétil. Tornam-se antimonumentos: aquilo que sobra da história e que não pode ser apagado, restando ao trabalho da memória crítica elaborá-los a fim de evitar o seu retorno.

Por fim, o conjunto de cartazes é disponibilizado ao público em grandes tiragens, o que possibilita a disseminação das frases para além de um espaço localizado. A exposição deixa de ser o ambiente sagrado de encontro com a obra máxima do artista para se tornar um ponto de partilha. Parte do trabalho contém em si, portanto, a finitude intrínseca ao último exemplar retirado. Apresentada em totens ou colada nas paredes da casa dos visitantes como pôster, a proposta de Garcia reverte a lógica dos enunciados impressos, frutos da concentração de capital econômico e simbólico por um pequeno grupo de empresas, e propõe a ampla distribuição de um pensamento crítico e viral.

LUCAS ALBUQUERQUE

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